terça-feira, 19 de abril de 2011

Notas Cotidianas e Literárias LXXVI

UM POEMA DE SAMUCA (SAMUEL) SANTOS

“Poema frito na língua” leva a assinatura do poeta originário da geração independente Samuca (Samuel) Santos, e a cidade de Olinda como ambiência. Água, mangue, saúnas, aratus. Barcos, fumaça, caos. Sugestões desencontradas a quem se sente ofuscado pela paisagem viva na visagem da manhã, pelo inútil da criação que não cabe no silêncio que oprime e desconcerta o poeta.


da janela
maré enchendo
no mangue do quintal

saúnas festejam não-sei-o-que
aratus sobem nas cercas
os barcos, sábios
não dizem nada, balançam

e a manhã tem dois caminhos:
a espiral dos erros
as esquinas do caos
e um terceiro, inominável
e surdo, hermeticamente calado

não suporto esses dias
que começam com poemas assim

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