OS VAQUEIROS
I
Quem viveu na caatinga
e foi criado no mato,
nascido na Cacimbinha
entre Sertânia e o Brabo
pode não ter mãos certeiras
na derrubada do gado,
pode não ter mãos de seda
nem feitas de muitos calos,
mas guarda os que a caneta
lhe trouxe de verso e palavras
escritas na força e peleja
do poeta com seus fantasmas,
de menino que veio cedo
estudar e morar na cidade.
II
Quem foi criado no mato,
no ermo dos tabuleiros
já teve o traquejo do gado
gostando de ver no terreiro
das fazendas ou soltos no pasto
os bichos sobre os lajedos
pulando barrancos e grotas
tangidos pelos vaqueiros.
III
No Sertão há meninos vaqueiros
sem medo correndo prado.
Há os vaqueiros mais velhos
nas pegas de boi pelo mato.
Também os mais jovens vaqueiros
com sua sanha e amor pelo gado.
Há ainda as mulheres vaqueiras
que humanizam essa arte de macho.
E tem ainda os poetas vaqueiros
que improvisam aboio e toada.
IV
Mesmo que certos vaqueiros
atalhem o gado de moto
a tradição não se acaba
por ser ela a mais própria:
Tanger boi a cavalo
junta trabalho e esporte
e vem de tempos antigos
que não se tinha o transporte
perigoso, enviesado, de aço
de quem viaja em duas rodas.
V
O que mais conta ao vaqueiro
é a destreza no trato com os animais.
O que mais vale ao vaqueiro
é o lento preparo de bois e cavalos.
Cavalos para sela e torneio.
Bois para as festas de vaquejada.
VI
Mais de cinquenta léguas
tangem boiada os vaqueiros,
arreios recurvos nas selas
atrás de negócios nas feiras
do Sertão e Agreste, na leva
pastoril das rédeas ligeiras.
Contornam estradas e serras,
previnem o estouro e a perda
de reses só confiadas a eles.
Descansam à sombra das árvores
próximas de pasto e riacho
em terras de cacto e veredas.
Prosseguem ao sol incidente
nos verdes de cinza e distância
quando o gado desfila pungente
mugidos de preguiça inconstante
e desolado o azul se faz lento
aboiar pelo ermo horizonte.
domingo, 4 de julho de 2010
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Sensacional.Muito Bom.
ResponderExcluirExperiência gratificante.
verde-que te- quero-verde.