quinta-feira, 24 de março de 2011

Notas Cotidianas e Literárias LXXI

UM SONETO DE ANTERO DE QUENTAL (1842-1891)


EM VIAGEM

Pelo caminho estreito, aonde a custo
Se encontra uma só flor, ou ave, ou fonte,
Mas só bruta aridez de áspero monte
E os sóis e a febre do areal adusto,

Pelo caminho estreito entrei sem susto
E sem susto encarei, vendo-os defronte,
Fantasmas que surgiam do horizonte
A acometer meu coração robusto...

Quem sois vós, peregrinos singulares?
Dor, Tédio, Desenganos e Pesares...
Atrás d'eles a Morte espreita ainda...

Conheço-vos. Meus guias derradeiros
Sereis vós. Silenciosos companheiros,
Bem-vindos, pois, e tu, Morte, bem-vinda!

In: Antologia/Antero de Quental: organização José Lino Grünewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

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