A CONQUISTA DO SERTÃO
Não se fez sem grandes perigos e dificuldades a conquista do sertão nordestino entre os séculos 17 e 18. O colonizador português, pretendendo ampliar seu domínio, até então firmado no litoral, ensejou pôr em prática estratégias para o desbravamento. Nas áreas onde se dava a exploração da cana-de-açúcar, a Coroa Portuguesa arrebanhou um contingente formado pelos moradores pobres e vadios das vilas ali existentes para o enfrentamento dos índios bravios. Com riqueza de documentação, dados estatísticos e depoimentos de época, Kalina Wanderlei Silva argumenta ter sido a ocupação do sertão executada a partir de povoações como o Recife, Olinda, Goiana e Tracunhaém, entre outras. O que era inicialmente uma tese de doutorado, foi posteriormente transformada no livro Nas solidões vastas e assustadoras (Recife, CEPE, 2010), indispensável a quem se interessa pela história local e seus desdobramentos que envolvem conexões e personagens de outras regiões e países, feito portugueses e holandeses.
Kalina Wanderley mostra que a ideia corrente de sertão era de um lugar deserto, imenso, inóspito, selvagem e inabitável. Concepção esta aceita e emitida pela tipologia humana do litoral, submetida ou mandatária do Reino, que se considerava a sua feição urbana e civilizada. A entrada no sertão das tropas régias, índios aldeados e recrutados de última hora encontrou fortes barreiras dos índios nativos. Tais resistências foram pouco a pouco sendo vencidas, não sem muita luta e baixas de ambos os lados, configurando o que se convencionou chamar de Guerra dos Bárbaros. A presença de diversos rios circundantes atestou ser o lugar propício à pecuária e à pequena lavoura. Assim se instalaram grandes currais para o gado, terras foram delimitadas e ocupadas, desfazendo e contrariando a visão inicial do sertão como um ´deSertão`.
Obviamente que alguns hábitos e práticas antigas ainda persistem na vastidão da caatinga, como as questões de honra e valentia, mas agora em menor intensidade. Certos vaqueiros substituíram o cavalo e a indumentária de gibão e perneira pela moto, o bermudão e a camiseta. Ao invés de botas de couro cru, o tênis urbano e, se possível, de marca. Uma acelerada eletrificação trouxe antenas parabólicas, celulares e desktops que fazem parte da rotina de muitos moradores rurais. Em dias recentes, o esforço da transposição das águas do São Francisco já demonstra ser um elemento altamente transformador da economia da região.
Diario de Pernambuco, 8 de março de 2011
Prezado Luiz Carlos:
ResponderExcluirApenas para lembrar que a Bahia foi o grande centro de povoamento, através da Casa da Torre, de Garcia D'Ávila, denunciado por suas atrocidades pelo Frei Martinho de Nantes, dfensor dos índios Cariris. Na nossa região, sul cearense, o povoamento se deu via São Francisco/Riacho da Brígida. Os documentos estão contidos nos trabalhos do Padre Antonio Gomes de Araújo. O levantamento que fez nosbatistérios e outros documentos de época assim o comprovam. Em Capistrano de Abreu também há matéria sobre o assunto. Em tempo, o livro de Frei Martinho de Nantes teve uma bela apresentação de Barbosa Lima Sobrinho. Tive a emoção de folhear o original na biblioteca de Nantes.
Forte abraço,
Everardo Norões