AOS VISITANTES DESTE BLOG
Começo essa primeira postagem de 2010 por agradecer a todas as pessoas que acessaram “O Mundo Circundante” nos seus dois meses de existência. A visita de cada internauta é fundamental para a continuidade do trabalho. Como já disse em outra oportunidade, quem escreve deseja ser lido. E que outros que escrevem também sejam lidos, pois um escritor não está nunca sozinho nesta empreitada. Um escritor não funciona sem uma comunidade de escritores que o precederam, que caminham juntos com ele, vivos ou mortos, dos quais absorve toques, registros, influências.
Aos amigos, conterrâneos, formadores de opinião, jornalistas, intelectuais, escritores, às numerosas pessoas que conheço apenas de contato virtual, expresso a minha mais profunda gratidão pelos acessos que vão se somando progressivamente. Sou grato em especial a todos aqueles que fizeram comentários, críticas e sugestões, tanto na conversa pessoal e presencial, como através de telefone ou e-mail. Feito uma resposta ansiada que se aguarda, a interação é estímulo e incentivo.
O blog é, também, extensão e complemento das atividades literárias e intelectuais desenvolvidas na edição de meus próprios livros e na publicação seletiva de artigos e ensaios em revistas, sites e jornais. E, mais importante ainda, no diálogo direto com pessoas que comungam a literatura e a arte. Sem esquecer o contato educativo com eventuais e periódicos alunos, na tarefa pedagógica e formativa.
Estou disposto a dar continuidade ao blog, na medida em que ele cumprir a função de transmitir cultura, poesia, crítica, crônica de fatos cotidianos, além do que for surgindo nos instantes de criação. O blog, aqui, não se presta à alimentação de nenhuma vaidade pessoal. Significa, apenas, a partilha da experiência com o trabalho literário, artístico e cultural.
010110
Lua cheia, prenúncio de chuva, calor violento. Tédio em família. Leve ressaca da noite da virada do ano. A TV anuncia pesadas enchentes e desmoronamentos em vários lugares do país.
Boêmios retardatários procuram bares que não vão abrir. Um breve balanço, impensável em profundidade, é feito por todos. Fica somente aquele desejo renitente como algo repetido que não se realizou.
Alguns guardam seus mortos, na memória ou no ato do enterramento. Outros não perdem, estejam onde estiverem, a primeira missa do ano.
A melancolia é parcialmente substituída pelos contatos familiares e de amizade. É difícil negar o prodígio da fala ao outro, mesmo a desconhecidos.
A cidade deserta como um leito vazio de quarto abandonado. Pessoas recolhidas em suas casas, maquinando a perspectiva dos novos dias. Soluções irremediavelmente adiadas para novos e antigos problemas.
UM POEMA DE CIDA PEDROSA
Cida Pedrosa é poetisa de Bodocó (PE), mas radicou-se no Recife há um bom tempo. Sua poesia reflete, em termos éticos, a condição da mulher brasileira e a busca incessante por cidadania. Sem, no entanto, escamotear um necessário sentido estético para as estruturas vérsicas em constante mutação e inovação. Seu livro mais recente, As filhas de Lilith, traz ilustrações de Tereza Costa Rego e design de Jaíne Cintra, para o acompanhamento de versos fortes, transparentes e arrojados. Todos os poemas têm como títulos nomes de mulheres, de A a Z. A mulher é vista em situações cotidianas e inusitadas, na rua e no quarto, na solidão e no seio da família, no salão de beleza e nas nuances da vida pública. O poema “cecília” (em caixa baixa mesmo), expõe o afã da mulher que lava rotineiramente uma calçada pela manhã, pondo nisso toda a sua concentração. Enquanto varre e enxuga, pensa pequenos sonhos e exorciza a agonia noturna. Como se pudesse consumar solitariamente a limpeza, enerva-se e se apressa quando olhos indiscretos a observam:
ela lava a calçada
como quem lava o mundo
do balde a cachoeira
molha pés dançarinos
alojador de sapatos
andante de procissões
na tirania da água
o barquinho de papel
escorre pelo sonho da menina
e o burburinho assusta o velho da janela
cecília lava a calçada
e a espuma em pedra
é breve morada em seus pés
portas se abrem
olhos espiam
a vassoura se apressa
e varre a agonia
vivida durante a noite
PARACHOQUE DE CAMINHÃO
Quando o bruto e o delicado se confrontam,
respingam faíscas de violeta e trovão.
PASSAGEM
1.
Detenho-me no mundo
o surto de um tempo
e o tempo de um eco
e na duração desse susto
um tempo suficiente
para aqui me sentir
o que vejo o que vivo
2.
Detenho-me no mundo
o surto de um tempo
e o tempo de um eco
e a duração desse susto
num tempo suficiente
para aqui me sentir
o que vejo o que vivo
sábado, 2 de janeiro de 2010
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Olá,
ResponderExcluirEsta visita foi realizada por mera curiosidade, aceitando seu convite que me veio por email. Vim, vi, li e gostei do que li. Um autor consciente do seu ofício (a entrevista é reveladora) e que partilha suas leituras com os "visitantes". Voltarei outras vezes.
Dalila Teles Veras
PS. também mantenho um blog "À Janela dos Dias", se quiser me dar a honra de uma visita...: http://dalilatelesveras.zip.net/