terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Notas Cotidianas e Literárias XI

CARNAVAL, SALINGER, RECLUSÃO E BACANAL

I

Se o escritor norte-americano J. D. Salinger tivesse vindo ao Brasil, mais especificamente a cidades como o Recife, Rio ou Salvador, talvez não pudesse fugir à loucura do carnaval. Mesmo que pensasse em se isolar em alguma praia ou cidade interiorana mais distanciada das metrópoles, haveria de sempre ouvir um eco qualquer de frevo, axé ou samba. Se ligasse a TV, não teria possibilidade de recusar-se a ver os flashes que invadem as casas do país durante a farra momesca, mostrando trios elétricos baianos, tremendas mulatas cariocas, passistas de frevo pernambucano, num colorido intenso e escancarado de fantasias, máscaras, bundas, sorrisos, bijuterias e cosméticos. Ligando uma das emissoras locais, não deixaria de apreciar bailes de elite de caráter tradicional e configuração filantrópica como o Bal masqué e o Municipal, ou escrachado feito o dos Artistas.
Poderia apreciar, em qualquer estação de rádio, frevos impagáveis de Capiba na voz de Claudionor Germano. E o norte-americano poderia concordar também com o sugerido por Mauro Mota para o significado lúdico geral e a compreensão nativista do frevo: “O frevo tem lucidez na loucura pela contribuição pessoal solicitada dos participantes. Assim dilata a sua coreografia. Nela os passistas atuam com tanta realidade que até parecem criaturas artificiais, de peças desmontáveis. Que ora se dobram e escondem pernas e pés, ora chutam para se verem livres de ossos incômodos.” E ficaria mais pasmo e perplexo, quando descobrisse o que disse Antônio Maria, numa crônica dos anos sessenta, com melancolia e saudade, do carnaval do Recife, que começava na noite de Natal: “Não se pode fazer ideia do que era o povo do Recife, solto nas ruas do Recife, após a declaração irreversível do Carnaval. Faziam parte da corte imperial mulheres morenas, que suavam, em bolinhas, na boca e no nariz. Mulheres de olhos ansiosos, presas de todos os atavismos de religião e de dor, a dançar a mais verdadeira de todas as danças – o frevo.”
Se tivesse privado da amizade de Carlos Pena Filho, outro apaixonado pelo carnaval, que compôs letras para Capiba musicar, quem sabe se não apreciaria a mais conhecida delas, “A mesma rosa amarela” (gravada por Maysa, Nelson Gonçalves, Vanja Orico e Tito Madi): “Você tem quase tudo dela,/ o mesmo perfume, a mesma cor,/ a mesma rosa amarela,/ só não tem o meu amor./ Mas nestes dias de carnaval/ para mim, você vai ser ela./ O mesmo perfume, a mesma cor,/ a mesma rosa amarela./ Mas não sei o que será/ quando chegar a lembrança dela/ e de você apenas restar/ a mesma rosa amarela,/ a mesma rosa amarela.”
Não seria fácil para Salinger saber que, como no poema “Segundo dia de carnaval”, de Alberto da Cunha Melo, não se pode morrer durante o carnaval, pois há uma recusa de silêncio dos alto-falantes e das gargalhadas, dos marujos bêbados e dos blocos que não dão trégua ao morto: “Passam blocos carnavalescos/ e mulheres cheias de tochas/ incendeiam homens molhados/ de álcool, ensopados de azul.// Quando alguém pede para o morto/ um só minuto de silêncio,/ o porta-estandarte responde/ que ele ‘tem silêncio demais’”. Ou constatar que outro poeta da geração 65, José |Mário Rodrigues, curte o carnaval com rasgos de folião juramentado, tirando do Recife e da avenida Guararapes toda a alegria que a cidade e a passarela principal dos desfiles pode franquear: “No carnaval eu me afogo/ No som quente dos metais/ Acordo minha bailarina,/ E adormeço meus punhais// No carnaval eu me abraço/ Com a cor de qualquer bandeira/ Depois volto aos meus pedaços/ (Mas isso é na quarta-feira...).

II

Mas Jerome David Salinger morreu há pouco, em 27 de janeiro deste ano, em sua casa em Cornish, no estado de New Hampshire. Foi o escritor mais recluso do século 20 dos Estados Unidos, e porque não dizer, do mundo. Famoso pelo seu livro “O apanhador no campo de centeio” (The catcher in the rye), de 1951, onde descarna a alienação, as aspirações, a irreverência e a rebeldia juvenil do segundo pós-guerra, escreveu numa linguagem que os jovens absorveram rapidamente, elegendo seu personagem Holden Caufield em ídolo.
Estranhamente e sem dar satisfações a ninguém, viveu recluso durante meio século. Depois de enricar com direitos autorais, e ao se indispor com as vicissitudes da fama, não quis mais saber de contato humano externo, a não ser a própria família, e ainda assim com restrições. Ele devia ter suas fortes razões para isso. Não escreveria jamais uma obra como a da estreia aos 32 anos (nasceu em Nova Iorque em 1919, no primeiro de janeiro). Não se sabe também o que ele deixou inédito. Em sua aversão a repórteres e fãs, e depois a qualquer tipo de gente que o procurasse, construiu uma barreira de muros altíssimos à bisbilhotice e à curiosidade. Mesmo assim, não pôde esquivar-se a escândalos e processos acionados por outras pessoas ou movidos por ele próprio.

III

A solidão de Salinger era diferente, por exemplo, da solidão de Manuel Bandeira. Se ambos procuravam o recolhimento para escrever, Bandeira, mesmo sendo um “ermitão”, participava da vida da cidade que escolheu para passar seus dias, o Rio de Janeiro. Escrevia para jornais, ia a lançamentos de livros, aceitava julgar concursos e prêmios de variada procedência e espécie, foi da Academia Brasileira de Letras, tinha muitos amigos (Vinícius, Drummond, Jaime Ovalle, Murilo Mendes, para citar apenas estes) que, apesar de certa rudeza do pernambucano, não dispensavam a sua companhia. Compôs um carnaval que tem mais de imaginário do que de vivido, em seu livro de 1919, Carnaval. Isto não significa, porém, que não tivesse participação direta nos carnavais de época, na condição de espectador privilegiado e que tinha um olhar mais aguçado que a maioria das pessoas comuns.
Um carnaval lírico e despojado, onde seriam permitidas todas as loucuras dos amores eventuais e descompromissados, do êxtase momentâneo e sem controle da carne em delírio. O poeta convoca Baco, Momo e Vênus para cantar e brincar na festa retratada no seu poema “Bacanal”, o primeiro do volume Carnaval. Os efeitos alcançados em estrofes com refrão de verso único, como um grito que se transmuta a cada chamamento da entidade mitológica, aparecem como desejos de liberação e desregramento das cadeias que cingem a alma e o corpo: “Quero beber! cantar asneiras/ No esto brutal das bebedeiras/ Que tudo emborca e faz em caco.../ Evoé Baco!// Lá se me parte a alma levada/ No torvelim da mascarada,/ A gargalhar em doudo assomo.../ Evoé Momo!// Lacem-na toda, multicores,/ As serpentinas dos amores,/ Cobras de lívidos venenos.../ Evoé Vênus!”.
O desejo inalcançado confunde, assim, o vivido e o impalpável, o que se observa à distância e o que é sentido e provado. Esta ambiguidade se manifesta com irreverência e grande compulsão para anular, pelo menos durante o surto carnavalesco, um cotidiano que se faz opressor pela necessidade de atendimento a obrigações e injunções imediatas e às vezes indesejadas. Por isso, poderá arrematar sincera e incisivamente, se perguntado: “Se perguntarem: Que mais queres,/ Além de versos e mulheres?.../ – Vinhos!... o vinho que é o meu fraco!.../ Evoé Baco!// O alfange rútilo da lua,/ Por degolar a nuca nua/ Que me alucina e que eu não domo!.../ Evoé Momo!// A lira etérea, a grande Lira!.../ Por que eu extático desfira/ em seu louvor versos obscenos,/ Evoé Vênus!”.
Em versos que expõem resquícios perceptíveis de certa dicção lusitana, o poeta junta-se à multidão alucinada e esquece temporariamente a tristeza, a falsidade e a hipocrisia de uma sociedade que se debate paradoxalmente entre o permissivo e o permitido, com focos ancestrais de conservadorismo e claros mas ainda incipientes sinais de avanço.


UM CONTO DE CARNAVAL DE MAXIMIANO CAMPOS

1) Maximiano Campos, que pertenceu ao Clube Vassourinhas e à Federação Carnavalesca de Pernambuco, tinha viva em sua escrita e criação a festa de frevo e desgarramento. Em parceria com o político, empresário e boêmio Arthur Lima Cavalcanti, fez a letra da música “Serpentina partida”:

Esse amor de carnaval
Durou uma canção
Foi uma serpentina partida
Que você jogou no salão
A vida também é fantasia
Para todo sim existe um não
Hoje você joga serpentina
Amanhã vai jogar seu coração
Você vestida de alegria
E eu na tristeza do salão
Ainda vai chegar o dia
Em que vou reinar no seu cordão.

A composição fala de um “fora” que se pode levar pela ousadia de admirar e cantar a mulher próxima, que rápido se transmuta em desconhecida. Um sorriso insosso e enganoso se sobrepõe, às vezes, por cima do gelo e da indiferença. Em outras ocasiões camufla e retém intenções inimagináveis, talvez por uma propalada sutilidade que seria próprio não só das mulheres, mas dos homens também. Conforme prenunciam os autores do frevo-canção, a musa do carnaval poderá, um dia, ter quebrado o orgulho de ser “bela, sim senhor”. Sem precisar assumir nenhuma culpa por isso. Prevalece um jeito simples de dizer, na canção, apenas aquilo que deve ser dito no reino da esperança que o carnaval e as bailarinas a todo vapor facilitam. Tudo isto se dá ao som do frevo, que não deixa ninguém parado, e ao sabor circulante das conversas, suores e abraços. Mais ainda, ao calor infernal e desabrido dos cigarros, do lança-perfume e do álcool.


2) Em “O rei, o cangaceiro e o astronauta”, Maximiano Campos narra o encontro de três foliões num bar recifense, durante o carnaval. A origem e o papel provisório dos personagens deste conto remetem a fantasias permitidas apenas pela loucura do carnaval, em que cada um se veste e traveste do jeito que mais gostaria de ser o tempo todo. São personagens surreais e fantásticos o rei negro e mecânico de profissão, o cangaceiro alfaiate e descendente legítimo de sertanejos, e o astronauta pequeno-burguês bêbado e brigão, cujo pai era dono da fábrica onde o rei trabalhava. A conversa segue amena e solta entre o rei e o cangaceiro, até que, bruscamente, aporta na mesa o astronauta. Mesmo as provocações e a discussão mais dura, turbinadas pela bebida, terminam cedendo espaço à vontade de brincar o carnaval. É sintomática a escolha do astronauta, que traduz a novidade maior do final dos anos sessenta, a chegada do homem à lua. O cangaceiro sugere a épica guerreira nordestina, os feitos de valentia e destemor. Quando se pensa nos numerosos homicídios, atrocidades, saques e estupros cometidos, a compensação se processa como ato de heroísmo nas lutas que culminavam no enfrentamento cego e suicida do poder político-econômico, bélico e rural inicialmente, para depois incomodar diretamente os governos presidenciais das décadas iniciais do século 20. “O rei, o cangaceiro e o astronauta” constava da única edição do livro As emboscadas da sorte (1971). O conto foi posteriormente publicado na coletânea O viajante e o horizonte (1997). Em 2004 saiu, em São Paulo, nova coletânea, com o título de um dos contos mais conhecidos de Maximiano, Na estrada, acrescida de material inédito em livro. Confira-se a versão integral do texto, que não sofreu alteração significativa em nenhuma das edições citadas:

“O rei e o cangaceiro conversavam e bebiam. O rei retirou a coroa cheia de pedras de todas as cores e colocou-a em cima do tampo da mesa. O cangaceiro continuou com o seu chapéu no qual havia três signos de Salomão e uma estrela, fincados na aba.
– Já conversamos um bocado, mas seu nome... – Como é o seu nome? – perguntou o rei.
– Jesuíno Brilhante.
– Mas eu quero saber o seu nome verdadeiro.
– É Jesuíno Brilhante.
– Mas esse não foi o nome de um cangaceiro que já morreu há muito tempo?
– É, morreu. Mas o meu nome é Jesuíno Brilhante.
– Você quer brincar com o rei?
– Não, majestade. O meu nome é esse mesmo.
O rei passou a mão no rosto gordo, depois levou um copo de bebida até a boca e engoliu de uma vez só. Ouviram vozes que vinham da rua, formando uma grande algazarra.
– O povo está se distraindo. Mas, voltando ao assunto do seu nome, você não vai querer me dizer que é o fantasma do outro, de Jesuíno Brilhante.
– Não, não sou nenhum fantasma. Tenho esse nome porque meu pai era sertanejo e admirava muito a vida de Jesuino Brilhante, falava sempre nas façanhas dele. Por isso, chamo-me Jesuíno Brilhante da Silva.
– Ah! Você não tinha falado nesse da Silva...
– É, não tinha falado. Jesuíno, o outro, era Alencar.
Estavam bebendo em silêncio, quando viram entrar um astronauta no recinto. Parecia ser um velho conhecido do rei. Saudou-o e pediu licença para se sentar à mesa. O rei deu permissão, admirado, parecendo contente de vê-lo ali. O astronauta, um rapaz louro e de olhos azuis, tirou o capacete para ficar mais à vontade e aceitou o copo de bebida que o rei lhe oferecia.
– Que tal a lua? – perguntou o cangaceiro.
– Ah! me esqueci de apresentar você – disse o rei, voltando-se para o astronauta. – Este aqui é Jesuíno Brilhante.
– Prazer! – disse o astronauta, sem mencionar o seu nome.
– Mas a lua, rapaz, que tal? – perguntou, dessa vez, o rei.
O astronauta riu. Parecia já estar bêbado, porque a sua voz estava meio empastada. Respondeu:
– Não tem mulheres, nem água, nem bebida, é uma desolação.
– Isso é ruim – falou o rei.
– E o seu Sertão? – indagou o astronauta ao cangaceiro.
– O meu Sertão é um reino muito grande. Há muitos anos saí de lá, era muito menino. Mas me lembro de quase tudo que vi. Agora ando desgarrado.
– Quer dizer que você nunca matou ninguém? – perguntou, rindo, o rei.
– Vamos deixar essa conversa de lado. Acho melhor o senhor contar a sua vida, falar do seu reino.
– Pouca coisa tenho a contar.
– É modéstia! – disse o astronauta, esvaziando o conteúdo da garrafa e enchendo o seu copo, que emborcou de vez, bebendo tudo de um só fôlego.
– Como foi que o senhor veio parar aqui? – indagou novamente o cangaceiro ao rei.
– Deixe pra lá! – respondeu o rei fazendo um gesto com a mão.
O astronauta, já empilecado, começou a dizer inconveniências com uma princesa que estava sentada a uma mesa ao lado. O rei reclamou, pediu ao astronauta que não dissesse mais aqueles palavrões, que respeitasse a sua presença e o ambiente.
– Você sempre foi um velho safado mesmo! – disse o astronauta levantando-se para se retirar da mesa.
Ia saindo, quando voltou e disse para o cangaceiro:
– Você tem cara de pastora e não de cangaceiro!
– Vá embora, deixe a gente beber em paz – falou o rei, tentando acalmar a situação.
O astronauta deu uma tapa no chapéu do cangaceiro e o chapéu caiu no chão. O cangaceiro, embora com raiva, ponderou:
– Isso não é brincadeira, nem conheço você direito! – E, voltando-se para o rei: – Como é que o senhor foi chamar um sujeito mal-educado desse para beber na nossa mesa?
– Você viu, ele perguntou se podia se sentar! Além do mais, não sabia que ele estava tão bêbado assim!
– Bêbado é a mãe! – falou o astronauta, cambaleando e segurando-se numa cadeira para não cair.
O cangaceiro levantou-se e disse, já afobado com as provocações:
– Agora você vai embora de todo o jeito!
O astronauta tentou reagir, mas o cangaceiro deu-lhe uma bofetada, depois um pontapé e, agarrando-o pela gola, sacudiu-o na rua.
O rei, aflito, correu para o cangaceiro, indagando:
– Por que você foi fazer isso?
– Ele ofendeu o senhor! Quis evitar que ele lhe causasse maiores problemas.
– Problemas foi o que você me arranjou agora!
– E o rei, dizendo isso, foi até a calçada e levantou o rapaz, trazendo-o de volta à mesa.
O astronauta, de tão bêbado, havia entrado naquela fase em que se fica meio adormecido pelo efeito do álcool. Caiu da cadeira em que o rei o havia colocado e estendeu-se no chão.
– Deixe esse cabra afoito! Esse camarada precisava levar umas tapas!
O rei, meio preocupado, perguntou:
– Será que as pancadas, os murros, fizeram mal a ele?
– Que nada... Não bati com força. Levou só umas tapinhas. Isso de ele estar no chão é porque bebeu demais. Mas por que o senhor disse que isso lhe traria problemas?
– É porque esse rapaz é filho do dono da fábrica onde trabalho.
– Desculpe, eu não sabia.
– É, mas não há de ser nada! Vamos embora. Hoje é o último dia de carnaval e amanhã vou ter que trocar essa roupa por um macacão sujo de graxa. Você trabalha em quê? – perguntou o negro alto e vestido de rei.
– Sou alfaiate.
– Foi você quem fez essa sua roupa?
– Foi.
– Para fazer minha fantasia, tive que economizar muito – disse o rei e, levantando-se, chamou o garçom que, impassível, assistira à conversa e à briga do cangaceiro com o astronauta. O rei pediu a conta. Dividiram as despesas. A princesa, debruçada sobre a outra mesa, parecia estar dormindo. Junto da sua cabeça estavam um lança-perfume e uma e uma garrafa de bebida vazia.
– Vamos embora! – disse o cangaceiro. – Mas, e esse cara aí, deitado? Quer ver se conseguimos levantar ele?
– Que se dane! O meu reino só dura três dias, e o do pai dele dura o ano inteiro.
– Que será que ele veio fazer aqui? Devia estar brincando num clube grã-fino.
– Acho que ele estava fazendo o corso com os amigos, deve ter entrado aqui para beber. Daqui a pouco os amigos devem achar ele.
– E se ele contar tudo ao pai?
– Sou despedido. Mas não quero pensar nisso agora.
Saíram para a rua. A porta-estandarte do Vassourinhas ia passando na avenida, marcando o compasso da marcha entre os confetes e as serpentinas que havia no asfalto. O rei e o cangaceiro caíram no passo. No bar, estavam a coroa, que o rei havia esquecido em cima da mesa, e o chapéu do cangaceiro, caído no assoalho entre pedaços de serpentina. A princesa pareceu despertar e levantou a cabeça do tampo de fórmica da mesa. Olhou para o astronauta estendido no chão. Depois, voltou a adormecer para sonhar com outros carnavais”.


PARACHOQUES

No carnaval ninguém pode impedir que a poesia
se irradie das cabeças, corpos e pés em folia.


POEMA DE CARNAVAL

Polichinelos azuis
borboletas de prata
serpentinas, confetes
despenteados cabelos
saracoteio nas ruas:

no frevo rasgado
avança a folia
dobrando as esquinas
de assalto nas praças
velozmente nas ruas:

expelindo os suores
excitando os humores
explodindo em rumores

que agora só vê-se
o povo nas ruas!

3 comentários:

  1. Adorei, Luiz Carlos!

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  2. Caro Luiz, em minha ignorância, não conheci o Sr. Salinger,... acredito que ao partir antes de conhecer esse nosso tal frevo,deixou sem preencher uma lacuna cultural muito importante para o curriculo dele.
    Mesmo sem ter conhecido pessoalmente, se tivesse tido a oportunidade de ler os seus textos, já diminuiria essa lacuna.
    Como sempre digo, você escreve como ninguém.
    Um forte abraço e muita boa sorte.
    Amélia Aragão

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  3. http://www.youtube.com/watch?v=I4zXZLpCPZM

    Cordel do Fogo Encantado com Trabalhadores do Brasil, poesia de Marcelino Freire.

    Aprecie.

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