quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Notas Cotidianas e Literárias XLII

OS AMANTES DESCOBREM SEU ÓCIO



OS AMANTES DESCOBREM SEU ÓCIO

Os amantes descobrem seu ócio
entre orgasmo, prazer, alegria.

Só muitos poetas não vemos
descobrir neste tempo a poesia.


A VOZ LUNAR

A voz lunar que desperta
a compulsão dos desejos.
E a um olhar mais ousado
a boca que avidamente soletra
o arfar delirante da carne,
as delícias comuns de um beijo.


DOIS MOMENTOS DA MESMA NUDEZ

1.

Tua nudez
quando
refletida em si mesma
navega:

Uma luz permeada
com rumor na paisagem
que cega.

2.

Sopro de vida enterrada
nessa sequência de lápides
tua nudez solitária
feito um arquivo de nadas.


MANHÃ

Estendo a ti meu silêncio
nessa manhã que desperta.

Revelas a mim tua crescente
nudez acesa, agreste.


A SESTA

Fantasias eróticas alternam-se
entre o tédio e a abundância

quais labirintos vorazes acesos
de sensualidade e apetência

ou etéreas visões e desejos
da carne em afrodisíaca dormência.


O VIAJAR INCANSÁVEL

O viajar incansável
pelo teu rosto e cabelos.
A perfeição de teu corpo
inviolado, sem máscaras
o teu perfume insondável
e eriçados teus pelos.

Tuas coxas que giram em arco
Bipartido
               palpável
                             não-lapso.

Tuas formas, desvelo, entremeios
quando estás concentrada nas águas
e após este teu banho-volúpia
quando és tão somente tu mesma –

Triangular
                  absorta
                               bivalve

e entrevista em janeiro –
ó visão merecida
ó mirada selvagem
ó visagem dos deuses –
Maravilha de te ter por inteiro.


POEMA (DESVENDADO O MISTÉRIO)

Desvendado o mistério
esvoaçantes teus olhos
a florescer no espaço
no desenlace da tarde:

Abelha rútila
a sugar
o mel dos lábios.

Amante súbita
a singrar
o fel das perdas.


SONETO DESMEMBRADO DA FORMA DE ORIGEM

Há um constante fluir no vazio
cotidiano e presente,
                                 um estio
de verão que só a custo elabora
sua própria paisagem.
                                   Dessa forma,
sob o sol lágrimas já não se retêm
do horizonte,
                      e pelo mar mais além
não há condensação nem vapor.
                                                   Nesta tarde
ouve-se apenas o som sem alarde
das brisas
                  a espalhar seu rumor pelas ondas
na praia
               enquanto nossas vidas se redimem sem pressa
no cristal de um abraço
ansiado
              e o nosso amor então se desdobra
na ardência de um beijo
desde sempre esperado
              e o desejo enfim se consuma
no esplendor de dois corpos
em impulsão e orgasmo.


GESTUAL

Voo em ti
volúpia jasmim
loucura sem fim
sedimentada
nestes teus olhos
de bela infante
multiplicada
neste teu corpo
de nave vagante
reunida às estrelas
antecedida à contemplação.

2

Canto para ti
me envolvo de ti

nestes cubos cinzentos
pelas ruas compactas

nestas ondas maciças
de embalos selvagens

neste mar impulsivo
que revolve tuas águas

3

As longas coxas morenas
descuidadas repousam
no espaço da cama
entre úmidos lençóis
desfolhados orgasmos
a saliva de bocas
os suores e abraços

Ácido o vento
gema e alento
clara e evento
manha odor movimento

Ponte pênsil
pênis duro
peso denso

os peitos expostos
nos descobertos mamilos

os pentelhos içados
e o esperma intenso
que freme que jorra e que vibra

na caverna no bosque a safira
na umidade crispada do sexo
penetrado há bem pouco tempo.

E agora o sinal dessa mão que elabora
os acontecimentos ardentes:
o elastecimento da carne
a tenacidade do nervo
que endurece
novamente.


UMA NOITE NÃO É O BASTANTE

Para que nos amemos sem tréguas
devemos nos conceder sem demora
do tempo que ainda nos resta
todas as noites, segundos e horas.

(Poemas inéditos)

Um comentário:

  1. Luiz Carlos, parabéns pelo blog e pelos poemas. Gostei muito do que li, em especial "DOIS MOMENTOS DA MESMA NUDEZ".

    Um abraço

    Márcia

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